domingo, 12 de dezembro de 2010

Chapéu


Nunca vi chapéu como aquele, aquela droga de chapéu.
Me disseram:
- se o seu unico problema é um chapéu, por que voce nao compra logo essa droga de chapéu?
- porque ele nao é um, ele é o chapéu e com certeza é uma droga.
Nunca disse a ninguém sobre os cachos avermelhados que saiam do chapéu e o cheiro que eles exalavam. Nunca tinha visto um chapéu sorrir antes, mas aquelee o fez pra mim diversas vezes. Aquele sorriso era o verdadeiro, os outros seres que eu vi apenas aspiaravam um meio sorriso. Lembro-me daquele chapéu vir em minha direcao com as pernas mais bonitas que já vi, todas cheia de pintas, seus pontos vermelhos naturais. Ela era dona da sua própria constelacao, a unica que eu via à noite. Até que um dia ela me disse:
- O inverno chegou. Todos os chapéus sao levados pelo vento no inverno.
- E os trazem de volta? Como as pessoas sobrevivem sem seus chapéus? tive o silencio como resposta, pois o vento forte levou-a embora. A droga do chapéu se foi.

[to sem alguns acentooos D: ]

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Amanha vai ser outro dia

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chãoViu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão

(Coro) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a finezade "desinventar"
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

(Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se
o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
E esse dia há de virantes do que você pensa
Apesar de você

(Coro3) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

(Coro4) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiá??

Chico, pode deixar ;)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

:)

—E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

[texto de algum autor desconhecido]

domingo, 30 de agosto de 2009

Dose de Felicidade

Sentou-se á mesa e pediu para o garçom uma “dose de felicidade”. O garçom olhou para o rosto jovem da garota e dando uma gargalhada se retirou. E a felicidade chegou como um líquido ardente que lhe queimou a garganta, mas sabia que logo estaria feliz e aquele ardor já não teria tanta importância.
Estava sentido que podia fazer tudo! Desde voar até contar o que sentia para quem quisesse ouvir. Cambaleou um pouco de felicidade, falou besteira, pois queriam ouvir e riu de piadas que comumente não riria. E ficou a noite inteira nessa alegria e dança meio esquisita entre um passo e outro da ida e volta do banheiro. Ninguém se importava. Estavam todos no mesmo compasso.
No fim da noite estava cansada de tanta dança que escorregou cadeira a baixo e dormiu. Acordou em casa, o teto girava e o seu estômago também. Jogou a felicidade fora por onde entrou e sobrou apenas uma carcaça sem qualquer lembrança da noite passada e dos companheiros de dança.
Emanuela :)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

clichê.


Pobre são os apaixonados que ouvem da boca dos seus amados palavras que instigam ainda mais a paixão. Palavras que são ditas apenas por dizer, vazias, sem significado algum. E que insistimos em entendê-las, buscar alguma interpretação para tudo aquilo que foi dito, sem saber que foram apenas palavras soltas, apenas um agrado. Depois somos culpados por termos nos apaixonado e como fomos idiotas ao amar alguém que toda noite dorme sossegado ou também preocupado com os próprios problemas de paixão. Mas só quem ama sabe a dor que cresce em nosso peito e a dificuldade que se tem em dormir, por sentir uma grande ansiedade e esperança de que amanhã, talvez, tudo ocorra de uma maneira diferente. Porém, nada é pior, e matou mais casais apaixonados, do que a saudade. A saudade de beijar, abraçar e sentir-se amado. Talvez, não dá forma que queríamos, mas do único jeito que nos é permitido. E se não nos permitem nem um pedacinho daquele amor, então, uma sensação louca percorre todo o nosso corpo e uma enorme tristeza atinge profundamente a alma, fazendo com que grande parte do nosso ego se despedace.
O amor tem também os seus efeitos colaterais, que talvez sejam maiores que os benefícios, mas o mais incrível é que nós sabemos de todos os problemas que a paixão pode nos causar, mas mesmo assim insistimos em algo, que muitas vezes dá errado, mas temos a esperança de que um dia possa dar certo.
Emanuela' :)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

dois mundos.


Compartilho de dois mundos opostos. O mundo das pessoas que se importam com a moral, a beleza, a seriedade e a perfeição (o mundo obscuro). E o mundo bom, louco, aconchegante e divertido (o mundo da luz).
Passo a maior parte do tempo no mundo das pessoas hipócritas, onde eu, por fazer parte desse mundo sem querer, acabo me tornando hipócrita como eles. Talvez, algumas pessoas também não pertençam a esse mundo rude, mas acabam se tornando como eu. Ou pior, acabam se convencendo de que aquele mundo obscuro é o certo.
Vivo e compartilho tudo com o mundo das trevas, porém, a minha família e amigos pertencem ao mundo da luz, onde se é permitido, rir conversar sobre tudo sem se preocupar com a tão ‘importante’ moral.
Como nada é perfeito, tanto o meu mundo como o obscuro, pode-se dizer que dentro desses mundos existem milhares de submundos, certos e errados. Sei que se eu fizesse parte do mundo obscuro diria as mesmas coisas que disse anteriormente. Estar fora da obscuridade
Independe dos lados e sim em reconhecer que o seu mundo, talvez não seja tão divino.
[texto: Emanuela']
[base do livro: Demian - Hermann Hesse]
" A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro. Homem algum chegou a ser completamente ele mesmo; mas todos aspiram a sê-lo, obscuramente alguns, outros mais claramente, cada qual como pode."
(Hermann Hesse)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sabiá


Em um belo dia eu estava a caminhar por um bosque, quando não pude deixar de notar a presença de um magnífico Sabiá. Ele aparentava ser tão adorável e, ao mesmo tempo tão genioso que eu tive medo de espantá-lo ao me aproximar. Poderia escolher vários caminhos, mas o que mais me agradou foi o de sentar e esperar. Observá-lo sem que notasse a minha presença. Passaram-se meses e eu continuava a ouvir o seu canto sorrateiramente.
Um caçador que também ficou maravilhado com tamanha beleza sentou-se ao lado oposto ao meu e também ficou a observar. Porém, ele não queria apenas contemplar aquele formoso pássaro, queria tê-lo para si. Então, enquanto eu estava desatento, ele construiu uma armadilha e o sabiá entregou-se por completo. Quando olhei ao meu redor, meus olhos não queriam acreditar no que estavam vendo. Ele havia ido embora sem deixar nenhum rastro. Eu estava completamente perdido, eu nunca mais veria o meu doce pássaro. Algumas semanas se passaram e eu continuava a procura do caçador, eu não ia desistir agora. Parei em uma casa de chá que ficava em algum lugar daquele imenso bosque. Sentei em uma das várias mesas e tomei um chá. Entrou um homem que me parecia familiar, ele carregava uma gaiola, nas costas, coberta com um pano preto. Por trás daquele pano pude ouvir um canto abafado, era ele. Era o meu Sabiá que estava ali escondido. Tê-lo tão perto, porém, fora do meu alcance foi doloroso. O caçador saiu da casa, eu saí logo em seguida. Precisava saber o que ele estava fazendo com o meu pássaro. Chegamos à beira de um riacho, ele colocou a gaiola em cima de uma pedra e retirou o pano. Lá estava ele, belo como sempre. A primeira coisa que fiz foi rir aliviado, ele estava bem. O caçador foi pegar água em uma fonte não muito distante, aproveitei para ficar mais próximo do Sabiá. Ele olhou fundo nos meus olhos e transmitiu toda felicidade que estava sentindo para mim. Minha preocupação tinha sido em vão. Liberei algumas lágrimas, dando as costas e deixando para trás o meu pássaro contente. De uma coisa eu pensei ter certeza: eu não voltaria mais a vê-lo.
Os meses passavam vagarosamente sem o doce canto que entrava pelo meu ouvido e percorria todo o meu corpo. Tomei coragem, então, e voltei para o lugar onde toda aquela fixação havia começado. Sentei em uma pedra, que por um segundo me pareceu iluminada, e esperei o tempo passar. Algum tempo depois, ouvi os arbustos se mexerem. Por trás de todo aquele movimento surgiu o caçador. Pensei em fugir para não ter que ver aquele homem novamente, mas o meu nervosismo me fez congelar naquela posição. Ele passou ao meu lado, parecia não me ver. Retirou a gaiola das costas, colocando-a no chão. Puxou o pano bruscamente e retirou o Sabiá de dentro, colocando-o no chão do bosque. Sem olhar pra trás ele levantou e saiu, deixando o pássaro lá, imóvel. Quando o caçador saiu do meu campo de visão tomei coragem para me aproximar do sabiá, eu tinha que ser cauteloso, qualquer movimento brusco poderia fazer com que o pássaro se assustasse e voasse para longe. Quando, enfim, fiquei perto dele olhei fundo nos seus olhos e sua tristeza tomou conta de mim. O caçador já havia usufruído toda sua beleza e canto, agora não precisava mais dele. Peguei-o com cuidado entre as minhas mãos. Não fez nenhum movimento, mas eu podia sentir o pulsar do seu pequeno, e agora magoado, coração. Ele não sabia mais voar, desaprendera depois de tanto tempo preso em uma gaiola. Não enxergava mais nada, só o que queria. Passei alguns dias ensinando-o a voar, mesmo sabendo que quando reaprendesse ele voaria atrás do seu caçador. Cada progresso que ele dava, era um retrocesso para mim, mas o que eu poderia fazer? Aprisioná-lo em uma gaiola impedindo-o de cometer o mesmo erro duas vezes? Ele não via aquilo como erro e sim como um desejo. Eu deixaria ele seguir o seu coração, assim como eu estava segundo o meu, ajudando-o. Mais dias se passaram e ele já estava voando perfeitamente. Por alguns minutos eu havia esquecido que a sua visão estava parcialmente afetada, focando-se apenas na sua idealização de amor. Acordei pela manhã mais calmo, vários dias haviam passado e o sabiá ainda não tinha partido. Talvez, ele tivesse desistido. Doce ilusão, olhei de um lado para o outro, nem sinal dele. Dessa vez eu não persistiria mais, voltaria para casa. Não tive mais notícias dele, não diretamente.
Lembro-me que toda temporada de caça era possível ouvir os tiros, seguidos de um canto de sabiá. Chorei ao lembrar dos olhos que transmitiam tantos sentimentos. Deixei-o voar para sempre dos meus olhos, mas jamais do meu coração.

[texto: Emanuela']